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PARTES DO LIVRO
"(...)A
orquestra continuava tocando e os casais se deslocavam ao redor deles.
Montgomery sorria, desafiando-a, acusando-a com o olhar de não atrever-se a
continuar.
Ela elevou
a mão e a posou no pulso de Montgomery, ao tempo que sentia como ele voltava a
enlaçá-la pela cintura. Imaginou que podia ouvir a corrente de murmúrios que
percorria a sala ao ver que ela concedia um segundo baile ao recém-chegado de
Londres. Era um comportamento escandaloso, tão escandaloso como a maneira que
tinham aqueles olhos de meia-noite de lhe sustentar o olhar, reclamando toda
sua atenção, relegando todo o resto (a música, as risadas, o cochicho das
conversações) a um longínquo plano de fundo. Catherine só podia ver,
confusamente, os brilhos das sedas de cores que passavam junto a eles, os
brilhantes reflexos da luz das velas nos cristais das janelas e portas. Não se
deu conta abso-lutamente de que ele a afastava, dançando, girando, do centro da
pista de baile, do salão, até a terraço, dando voltas e mais voltas até deixar
atrás as luzes e o barulho, e dançando só entre sombras, sob o céu estrelado.
Aproximou-a
para ele, e a abraçou de um modo que a fez sentir perfeitamente ajustada aos
duros contornos de seu corpo. Os círculos que descreviam eram cada vez mais
pequenos, seus passos se faziam mais lentos, até que virtualmente deixaram de
mover-se, e tão somente balançavam brandamente ao compasso da música. Catherine
sentia que o coração acelerava, que o sangue lhe pulsava com muita força, e se
deu conta de que ambos estavam perigosamente perto. A noite era muito escura e
no ambiente só se respirava a fragrância das rosas. Baixou o olhar um instante,
e já não foram aqueles olhos os que continuavam mantendo-a enfeitiçada, a não
ser a sensual curva daquela boca... uma boca que se apro-ximava da sua enquanto
a mão que tinha nas costas subia até sua nuca.
Seus
lábios se roçaram, e um tremor sacudiu todo seu corpo. De sua garganta escapou
um débil suspiro de protesto, mas nem sequer pôde conseguir que soasse
convincente. Todos seus sentidos se centraram na suave e doce pressão daquela
boca sobre a sua, naquela língua que pulava e media o terreno, preparando-a para
a audaz intrusão que seguiu imediatamente.
Catherine
sentiu que seus braços a abraçavam com mais força e que seus lábios se pegavam
mais aos seus. Voltou a tentar um protesto, mas tão somente conseguiu lhe
proporcionar a Montgomery a pequena abertura entre os lábios que ele procurava,
e sentiu, com horror, que aquela língua penetrava possesivamente, procurando o
calor de sua boca. Falharam-lhe os joelhos, e o estômago se tornou de gelatina
fervendo, tão densa como o chumbo fundido, deslizando-se para suas pernas com
cada suave e detalhada carícia. Abria e fechava os punhos. Estendeu os dedos
sobre o veludo da levita e foi subindo pouco a pouco... até que suas mãos se
agarraram a aqueles largos e poderosos ombros, ao redor da nuca. Catherine se
entregava ansiosa a aquele abraço, tremendo ante a força dos braços do
Montgomery enquanto a envolviam.
Tinha
acreditado conhecer todos os tipos de beijos que um homem podia
oferecer... que mistério ficava por
descobrir no simples feito de um roçar de lábios? Os beijos de Hamil-ton, isso
sim, enchiam-na de calidez e lhe produziam pequenos calafrios de satisfação em
todo o corpo, mais que os beijos de qualquer outro homem que a tinha beijado
antes que ele. Mas, ainda assim, o tenente jamais lhe tinha provocado essa corrente
de calor líquido que agora mesmo lhe incendiava as veias. e tampouco o corpo do
Hamilton tinha atraído jamais a sua daquela maneira, lhe obrigando a fundir-se,
a mover-se com ele, a perguntá-la causa e o remédio que havia para aliviar
aquela incrível e chamejante tensão. Inclusive sentia a pele mais tirante, e um
formigamento no ventre que a levava a querer aproximar-se ainda mais, a querer
notar o calor daquele corpo sobre a nudez do dele.
Catherine
lhe estava devolvendo o beijo, sabia que o estava fazendo, mas Montgomery
deixou de beijá-la de repente, separando-se tão
bruscamente, que dos lábios dela escapou um gemido de desilusão. As
sombras escondiam seu rosto, e ela quase não podia discernir mais que suas
negras e povoadas sobrancelhas, mas lhe pareceu adivinhar que ambos
compartilhavam a mesma sensação de surpresa. Como se ele não tivesse esperado
sentir a tormenta de prazer que ela sabia que percorria também seu largo torso.
Montgomery
se separou dela, como se já não pudesse responder ante a perspectiva de seguir
em contato, e tentou usar um tom desenvolto e frívolo de falar.(...)"
"(...)Desde sua chegada a
Achnacarry, Alexander tinha escolhido continuar se vestindo de acor-do com o
estilo inglês: casaco, calças escuras, camisa branca e gravata-borboleta. Para
seu primeiro jantar em casa lhe tinham procurado um paletó mais formal, de
veludo azul celeste ricamente adornado, cujos punhos estavam voltados até quase
o cotovelo e bordados com fio de ouro.O paletó estava aberto sobre um colete de
cetim com franjas douradas,grampea-
do até o pescoço sob faixas
brancas, cheias de laços, combinando com as que brotavam lite-ralmente à altura
dos pulsos. Levava a cintura uma bandagem de tartán escarlate e negro, e cujas
dobras formavam o kilt, bem preso por um cinturão de couro esculpido. O final
do tartán subia em um drapeado sobre o ombro, e se ajustava ao paletó com um
broche de pra-
ta com incrustações de
topázios. Estava perfeitamente barbeado; o cabelo cuidadosamente penteado, preso
em um rabo de cavalo e com alguns cachos caindo sobre as têmporas.
Durante um momento,
Catherine quase não reconheceu o seu «marido». Inclusive o mais exigente dos
juízes o julgaria magnífico; tinha o aspecto de alguém capaz de subir ao topo
de uma montanha e ordenar o nascer e o pôr do sol a seu bel prazer.
Mas, apesar de sua
mudança externa, seus olhos continuavam sendo os mesmos. Negros e atrevidos,
estudavam a imagem de Catherine no espelho, deixando-a com a clara impressão de
que sua apreciação sobre o aspecto que ela mesma luzia se tornou óbvia.(....)"
"(...)Alex voltou a cabeça
para ela da janela, e a assaltou um absolutamente incongruente pensa-mento:
Alex deveria estar -sempre ante uma janela parcialmente iluminada pelo sol. A
luz fazia que sua camisa ficasse quase transparente, que seu cabelo brilhasse
como metal fundi-do e seus olhos cintilassem com um profundo, intenso e escuro
azul da meia-noite.(...)"
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